Há aproximadamente um ano, Édipo Andrigo Alves, de 35 anos, começou a sentir dores no corpo. No caminho para o trabalho, o gerente administrativo percebeu que os sintomas não eram gripais e buscou atendimento. Ao chegar na UPA, o diagnóstico foi dado: dengue. Após alguns exames, ele foi encaminhado para casa com a orientação de hidratação e alimentação balanceada.
Os dias foram passando e o quadro de Édipo foi piorando até buscar atendimento pela segunda vez. “Eles me colocaram imediatamente em atendimento, a enfermeira chamou o médico, eu já estava desmaiando, me colocaram em cima da maca. O médico mandou dar soro e fez mais uma coleta de exames de sangue. Quando ele veio com o resultado, ele me deu a notícia um pouco mais drástica do que o outro, ele falou assim, ‘você está com dengue, mas você já teve alguma doença do fígado?’ Eu falei que não, e ele disse ‘mas você está com alguma coisa grave no teu fígado agora’”, lembra.
Ao sair da unidade de Saúde, o gerente administrativo entrou em contato com a família, que viajou até Florianópolis auxiliar nos cuidados. “Eu já tinha falado pra minha mãe que eu estava no hospital, ela é de Lages, ela veio pra cá pra ficar comigo porque eu estava em casa, eu não estava me alimentando, tinham se passado vários dias que eu estava ruim, não estava progredindo. Ao todo eu fiquei aqui em Florianópolis com a doença assim sofrendo 10 dias. Quando a minha mãe veio, a gente foi pra Lages. Lá em Lages eu fui atendido na UPA também de Lages, daí o médico me perguntou se eu queria ser internado ou não. Eu falei assim, ‘você quer me dar mesmo a opção?’ E ele disse que eu tinha direito a opção, mas gostaria que ficasse internado porque naquela condição eu não melhoraria em casa. Foi onde eu fiquei mais 11 dias no hospital. Ao todo foram 34 dias com a doença”, destaca.
Os relatos como o de Édipo se tornaram cada vez mais comuns em Santa Catarina, à medida que o número de casos de dengue aumenta no estado. O diretor de vigilância epidemiológica da dengue, Dr. João Fuck, ressalta a gravidade da situação. “A gente precisa lembrar que o vírus já está circulando, ou seja, já temos casos de dengue aqui no estado nesse início de 2024. E a gente sabe que é uma doença que pode evoluir para a gravidade, ou seja, as pessoas podem morrer por causa de dengue, como a gente viu nos últimos anos. Então é fundamental que as pessoas que tenham febre alta, dores de cabeça, dores pelo corpo, manchas vermelhas pelo corpo, dores atrás dos olhos, se sintam bastante prostrados, porque a dengue tem essa característica de deixar as pessoas bastante prostradas, ou seja, não tem força para fazer as atividades do dia a dia, que busquem um serviço de saúde porque aí os profissionais vão poder fazer todo o manejo clínico, orientar as pessoas justamente para que elas não evoluam para a gravidade. E uma outra orientação importante é que as pessoas se hidratem muito, tomem bastante água, porque isso faz toda a diferença no curso da doença. Então, teve sintomas, inicie uma hidratação bastante intensa em casa, tomando bastante água, bastante líquido, até a procura do serviço de saúde, que lá o profissional vai fazer toda a indicação, então, de qual é a quantidade de líquido necessário para essa pessoa”, ressalta o especialista.
Diante do cenário preocupante, o governo do estado de Santa Catarina tem intensificado suas ações para conter a propagação da dengue e garantir o atendimento adequado aos pacientes. Medidas como o reforço na limpeza de áreas propícias à proliferação do mosquito Aedes aegypti, como terrenos baldios e locais com acúmulo de lixo, têm sido priorizadas. Além disso, campanhas de conscientização estão sendo realizadas em todo o estado, com o objetivo de educar a população sobre a importância da prevenção e da busca por assistência médica ao menor sinal da doença.
Santa Catarina já tem confirmados cinco óbitos por dengue em 2024 (quatro em Joinville e um em Araquari). Já são 8.710 casos prováveis da doença. Um aumento de 611% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o estado tinha 1.225 casos prováveis de dengue.
Vacina
Conforme informações divulgadas pelo Ministério da Saúde (MS) na última quinta-feira, 8, Santa Catarina não vai receber doses da vacina contra a dengue nesta primeira remessa, devido a quantidade limitada de imunizantes disponíveis. Não há previsão de quando as doses chegam ao estado.
De acordo com a Nota Técnica do MS, “a distribuição das doses nos municípios foi determinada com base em três critérios principais: o ranqueamento das regiões de saúde e municípios, o quantitativo necessário de doses para a população-alvo conforme a disponibilidade (prevista pelo fabricante) e o cálculo do total de doses a serem entregues em uma única remessa ao município”.
A Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina (SES) aguarda novas informações do Ministério da Saúde acerca do envio de doses ao estado. (RCN)